A ideia de que música é saúde já circula desde o século 6 a.C. Naquele tempo, Pitágoras já dizia que para o corpo e mente ficarem sintonizados com a harmonia do universo a receita era simples e eficiente: música e dieta vegetariana. Quanto à dieta há discussão, mas até os médicos já sabem que música ajuda a curar. A isso chama-se musicoterapia.
A definição oficial, da Federação Mundial de Musicoterapia, é longa. “É a utilização da música e/ou de seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um profissional qualificado, com um cliente ou um grupo, em um processo destinado a facilitar e promover comunicação, relacionamento, aprendizado, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, a fim de atender às necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas. A musicoterapia busca desenvolver potenciais e/ou restaurar funções do indivíduo para que ele alcance uma melhor integração intrapessoal e consequentemente, uma melhor qualidade de vida, através de prevenção, reabilitação ou tratamento”. Ufa! Resumindo: o que será capaz de reunir crianças e adultos dançando em roda, completamente felizes e abandonados à brincadeira, senão a música?
Existem duas formas de proporcionar música a seu bebê: uma é ativa, em que você canta ou toca; a segunda utiliza músicas em sequências muito específicas, já gravadas – e atende àqueles que não se sentem aptos a tocar um instrumento. Em qualquer caso, o importante é que o bebê possa ser tocado enquanto ouve e tudo se transforme numa grande e prazerosa brincadeira, como convém às crianças.
Musicalizar o quotidiano. O verbo não existe, mas é usado pela música e professora Margarete Darezzo, que ensina música a bebés a partir dos quatro meses, com o significado de introduzir a música na vida da criança. Muitas vezes as mães fazem isso sem saber. Ao cantar uma antiga canção de ninar ou fazer brincadeiras tradicionais com seus bebés, as mulheres estão preparando seus filhos para as fases seguintes do aprendizado. Quando a música entra em cena, eles aprendem rápido, desenvolvem habilidades motoras e acabam expressando estruturas musicais antes mesmo de falar seu nome. Para completar, crianças que recebem estímulos musicais adequados (sem excesso ou escassez), aprendem a escrever mais facilmente e têm maior equilíbrio emocional.
Será a música um remédio divino? Depende. Sim, se for acompanhada de brincadeiras, de atenção às reações e limites de cada bebê. Não, se você entender que basta colocar um CD no quarto do bebê e ir assistir a novela das oito. Para as musicoterapeutas Lilian Coelho e Maristela Pires da Cruz Smith é preciso tomar cuidado com os efeitos “anestésicos”. A música pode ser tão calmante quando Valium e isso pode ser ruim, porque priva a criança de descobrir o mundo no qual acabou de chegar.
Esse efeito calmante acontece quando você usa o timbre agudo, com ritmo e altura bem marcados e persistentes. Isso leva a um estado alterado de consciência – que pode ser muito gostoso para os adultos, mas confunde os bebés, que ainda não têm referências claras de realidade. É exatamente esse o efeito do som de caixinha de música. Ela pode se usada, é boa e acalma. Segundo Lilian e Maristela, o som deve ser “bem colocado”, ou seja, fazer parte da história sonora da pessoa.
O que é isso? É tudo o que esse bebê, com sua pouca experiência, conhece de música desde que aprendeu a ouvir, no segundo mês de gestação. As musicoterapeutas preferem usar músicas que atendem à necessidade de cada indivíduo. No caso do bebê a coisa fica um pouquinho complicada, porque ele ainda não sabe falar do que gosta, nem tem independência suficiente para escolher o que quer. Nesse caso, a mãe tem uma saída muito interessante. Basta lembrar o que ouvia durante a gestação e lhe fazia bem (o que faz bem à mulher agrada ao bebê). “As mulheres têm necessidades sonoras durante a gestação – tanto como alimentares”, conta Maristela. “Existe uma comunicação inconsciente entre mãe e feto. E há a possibilidade de usar essa ligação com o bebê para satisfazer as necessidades sonoras dele. Basta sentir. Quando você coloca uma música que faz parte dessa experiência, você sente comunicação. E serão essas músicas que seu filho gostará depois de nascer.
O mais importante, no entanto, é que a criança tenha oportunidade de experimentar estímulos diferentes. Se a mãe utiliza sempre a caixinha de música – e só ela-, acaba limitando as possibilidades, não abre um mundo para exploração. “Devagar, você amplia o mundo visual. É importante que o mesmo aconteça com os estímulos sonoros”, diz Maristela. Se você ficar tentada em usar músicas de efeito calmante em seu filho nas horas de aperto, esqueça. Condicionar seu bebê desde pequenino pode trazer dores de cabeça ainda maiores depois. O melhor mesmo é niná-lo e cantar as cantigas que você conhece.
Brincando de Música. Pais de bem com a vida brincam de música com os bebês? Claro! Quem resiste a brincar com mãozinhas, pezinhos e bochechas pequeninas? Desde rimas e brincadeiras simples, até mostrar os dedinhos, a partir dos quatro meses valem todas as brincadeiras da época da vovó.
Quando a música encontra a brincadeira, os pequenos ficam felizes e vão se preparando para suas próximas fases de desenvolvimento. Ao longo dos anos que trabalha com bebés, Margarete já viu bebés de nove ou onze meses, que nem mesmo falavam, acompanharem suas rimas, e os movimentos correspondentes. Quando ele começar a gatinhar, permita que brinque com os sons, mostre diferenças.
Margarete recomenda ainda outro cuidado: usar instrumentos acústicos – seja tocando como no CD. Tudo porque quando você toca uma nota, ela vem com todos os timbres e reverberações das outras notas. Tem mais: de todos os elementos que compõem a música o ritmo é o mais importante. Bebés adoram ritmos pausados (próximos de um coração batendo tranquilo) e melodias suaves, em tons mais agudos.
Você pode ir experimentando o que seu filho gosta. Lembra aquela música que ouvia durante a gestação e dava uma paz enorme? Veja o que acontece quando seu bebê a escuta e como é maravilhosa a música.
Revista Crescer