Lisboa, 06 Abr (Lusa)

A música clássica, o hip hop, o rock, o pop e até a “pimba” podem ser utilizadas em tratamentos de musicoterapia em patologias tão diferentes como a depressão, a toxicodependência ou os acidentes vasculares cerebrais.

Apesar de ser uma terapêutica recente em Portugal, a musicoterapia – uma forma de intervenção que utiliza a música, os sons e os ritmos para tratar diversas patologias – começa a ser cada vez mais procurada pelas pessoas.

Em entrevista à agência Lusa, a presidente da Associação Portuguesa de Musicoterapia (APM), Teresa Leite, explicou o que é esta terapêutica, as etapas dos tratamentos e a evolução que tem tido em Portugal.

Licenciada em psicologia e musicoterapia, formação que obteve nos Estados Unidos, Teresa Leite referiu que se trata de uma terapêutica recente em Portugal, apesar de o interesse “estar cá desde os anos 1960”.

“Em Portugal o interesse surgiu nos anos 1960 e tal como no estrangeiro, começou na psiquiatria com doentes profundos e mais tarde com pessoas ligadas à educação musical que trabalhavam com crianças deficientes e autistas”, disse.

Com o aparecimento de cursos na Madeira nos anos 1990, com a realização de seminários e a partir de 2000 com os cursos de especialização na Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Lusíada, em Lisboa, e na Escola Superior de Educação, no Porto, a musicoterapia foi ficando conhecida, suscitando o interesse de profissionais ligados às mais diversas áreas.

Sendo uma disciplina de intervenção terapêutica, a musicoterapia já começa a ser uma profissão em Portugal, apesar de não estar classificada como tal.

“A musicoterapia é a utilização do som, da música num plano com objectivos terapêuticos, junto de pessoas que apresentam algum tipo de problemática, que precisam de ser ajudadas e que mostram sinais de beneficiarem de uma ajuda através da música”, explicou a responsável.

O tratamento, adiantou Teresa Leite, pode ser feito através da escuta ou da prática musical, consoante o tipo de patologia que a pessoa apresenta.

“Eu não tenho uma música específica para isto ou para aquilo. As pessoas perguntam-me muitas vezes que música é que eu uso nos tratamentos, mas a musicoterapia não funciona num regime de modelo médico como na medicina, em que há medicamentos para tratar as doenças”, disse.

O musicoterapeuta tem de fazer primeiro um levantamento dos dados da pessoa e das músicas que prefere.

“Um dos princípios pilares da musicoterapia é que não se estabelece contacto com ninguém para a obrigar a vir ao nosso sistema. Nós é que temos de ir descobrir que música é familiar à pessoa, em que estado mental se encontra, o tipo de personalidade, que problemas apresenta e só depois passamos ao tratamento”, explicou.

Todos os tipos de música, frisou Teresa Leite, sejam eles rock, clássica, hip hop ou “pimba”, podem ser usados nos tratamentos, têm é de ser da preferência da pessoa.

Na opinião de Teresa Leite, a música pode ajudar no tratamento de várias patologias porque é simbólica e recreativa, “com quem toda a gente tem uma relação mais ou menos próxima”.

“A pessoa pode não saber tocar nenhum instrumento, pode nunca ter aprendido música, mas todos nós temos preferências musicais, compramos os nossos CDs, ouvimos rádio, usamos a voz e nascemos e crescemos rodeados de ritmos, pelo que o ser humano tem capacidade para se envolver em experiências musicais”, sustentou.

Segundo a musicoterapeuta, a música tem potenciais físicos, cognitivos, relacionais, sociais, ocupacionais e espirituais.

“Todos nós temos ligações afectivas com a música ou através das memórias das músicas que a minha mãe me cantava ou porque determinada música me faz lembrar uma pessoa ou uma situação”, disse.

No que diz respeito às patologias que podem ser tratadas com musicoterapia, Teresa Leite indicou que podem ser várias, desde a depressão, o autismo, tratamento da dor, acidentes vasculares cerebrais, hiperatividade ou enfartes.

“Por exemplo, uma pessoa que sofreu um acidente vascular cerebral muitas vezes fica com sequelas motoras e cognitivas; aí vamos arranjar actividades de improvisação, de execução instrumental para trabalhar as motricidades para ajudar a pessoa a usar a mão ou a falar e até para facilitar a recuperação de memórias”, contou.

A musicoterapia pode também ser de grande auxílio no combate a problemas somáticos, como a dor.

“Há musicoterapeutas nos hospitais a ajudar as pessoas a fazer gestão da dor, quer pela via do relaxamento puro e simples quer por actividades de movimento com música que tornam o corpo relaxado”, disse.

Questionada sobre se nos tratamentos com musicoterapia são usados fármacos, Teresa Leite respondeu negativamente.

“Eu sou psicóloga, não tenho competências profissionais para medicar e por isso não uso fármacos, mas quando uma pessoa precisa de fármacos trabalho em colaboração com um médico”, salientou.

Quanto aos preços dos tratamentos, Teresa Leite reconhece que são caros, pois exigem continuidade, várias sessões.

“Tal como a psicoterapia, as sessões no privado de musicoterapia são caras, em torno dos 40/50 euros por sessão, pois é um trabalho que exige continuidade, é a médio longo prazo”, disse.

Dina Dias, Agência Lusa
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2008-04-06 12:40:01

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